Como desenvolver a humildade à medida que se adquire mais conhecimento?

Existe uma tensão destacada em 1 Coríntios 8:1: “O amor edifica, mas o conhecimento ensoberbece.” Essa oposição levanta uma questão importante: como é possível crescer em conhecimento sem cair no orgulho?

A busca por conhecimento, especialmente no contexto do estudo teológico, frequentemente traz consigo o risco de desenvolver arrogância ou autossuficiência intelectual. Ao se preparar para um período de formação bíblica mais aprofundada, é comum surgir a preocupação de que o acúmulo de informações possa alimentar a vaidade, em vez de promover uma transformação genuína do coração e dependência do Espírito Santo.

Diante disso, surge uma pergunta crucial: de que maneira o aprendizado pode ser orientado para a edificação interior, garantindo que o conhecimento adquirido não se limite a teorias vazias, mas produza frutos verdadeiros e humildes na vida?

O Orgulho e Suas Armadilhas

Ao longo do processo de formação acadêmica e inserção no ensino e na produção teológica, é comum que surjam motivações ambíguas e preocupações internas relacionadas ao orgulho. Por exemplo, após anos de estudo formal e envolvimento com publicações e ensino bíblico, pode emergir uma inquietação sincera: estaria o desejo de compartilhar conhecimento sendo movido por amor à verdade ou pela busca de reconhecimento?

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Esse tipo de questionamento revela uma armadilha sutil: o conhecimento, mesmo quando direcionado ao serviço do próximo e à glória de Deus, pode ser contaminado por desejos de exaltação pessoal ou de aprovação pública. A tensão entre servir com excelência e receber elogios pode confundir as motivações. Em determinados momentos, mesmo atividades claramente ministeriais — como lecionar ou discipular — podem ser acompanhadas pela dúvida: o que se busca mais intensamente — o bem espiritual dos outros ou o próprio prestígio?

Esse tipo de autorreflexão é fundamental para aqueles que desejam crescer em humildade. O orgulho nem sempre se manifesta de forma explícita; ele pode se infiltrar até mesmo nos atos mais aparentemente altruístas, tornando necessário um exame constante das intenções.

O Verdadeiro Campo de Batalha

O orgulho é um inimigo da alma sutil e persistente, que não pode ser vencido apenas com estratégias externas. Independentemente das circunstâncias — seja no ensino, na publicação de textos ou em qualquer outra atividade — o combate ao orgulho deve ser travado, principalmente, no nível interior, invisível e espiritual do coração.

De fato, o aprofundamento no estudo bíblico e teológico pode se tornar terreno fértil para a arrogância. A história mostra que até mesmo aqueles com vasto conhecimento das Escrituras podem ser dominados por um espírito orgulhoso. O coração humano é profundamente enganoso e é capaz de transformar até as doutrinas mais centradas na humildade em fonte de vanglória, simplesmente pelo fato de se crer detentor delas.

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Por outro lado, evitar o estudo formal ou a formação teológica não é garantia de humildade. O orgulho não faz distinção entre níveis de escolaridade, posição social ou vocação. Tanto pessoas com instrução quanto aquelas sem formação acadêmica estão igualmente suscetíveis à soberba. O afastamento de contextos formais de ensino, sob a justificativa de confiar apenas na interpretação individual guiada pelo Espírito, também pode ser expressão de autossuficiência disfarçada de espiritualidade.

A verdadeira batalha contra o orgulho não se vence com mudanças externas, mas com uma luta espiritual interna constante. É por meio desse combate no coração que a humildade pode ser cultivada, e não apenas por meio da alteração das circunstâncias ao redor.

Armas da Humildade

Primeiro, busque estar continuamente maravilhado com o fato de que você foi salvo do inferno, salvo por pura graça soberana, imerecida e indescritivelmente preciosa. Nunca perca o assombro de que Deus salvou você — que Deus escolheu você, que Cristo morreu por você, que o Espírito o atraiu, e que Ele demonstra paciência com você centenas de vezes por dia por causa das suas falhas. Nunca permita que isso se torne, de alguma maneira satânica, um motivo de vanglória, mas sempre uma base para a humildade. “Eu fui salvo — eu, totalmente indigno. Eu fui salvo!” Que essa seja sua maior admiração. Que seja a sua canção.

Segundo, mantenha sempre em mente que absolutamente tudo o que você é e tem é um dom imerecido. Paulo diz: “O que você tem que não tenha recebido? E se o recebeu, por que se orgulha como se assim não fosse?” (1 Coríntios 4:7). Diga a Deus todos os dias: “Eu não sou Deus. Eu não sou meu. Eu pertenço totalmente a ti. Eu não sou dono; sou servo. Estou completamente à tua disposição. Tu podes me tirar deste mundo quando quiseres. Tu não podes me fazer nenhum mal que eu não mereça.” Tudo é um dom imerecido — cada respiração, cada batida do coração. Mantenha isso sempre diante de seus olhos.

Terceiro, ore continuamente para que Deus atue em sua vida impedindo que você seja enganado, pensando ser algo quando, na verdade, não é nada. Paulo disse: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem deu o crescimento. De modo que nem o que planta nem o que rega são alguma coisa, mas unicamente Deus, que efetua o crescimento” (1 Coríntios 3:6–7). Portanto, ore para que Deus opere em você o milagre da humildade que se esquece de si mesma e o guarde da autossuficiência e da exaltação pessoal. Ore, ore, ore por isso.

Quarto, em tudo o que fizer, disponha-se a ser um servo de outras pessoas em nome de Jesus. Não se exalte sobre os outros; viva para o bem dos outros. Meça tudo pelo amor. Mesmo que receba algum tipo de posição de liderança, pense sempre nela como um chamado para servir aos outros. Viva intensamente Filipenses 2:1–11, até que a mente de Cristo seja formada em você. Seja um servo. Seja um servo.

E, por fim, quinto, como Paulo diz em Romanos 8:13, mortifique pelo Espírito toda e qualquer sugestão de tentação à autoglorificação. Esteja atento às sutilezas do orgulho e empunhe a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus, para matar toda tentação de se engrandecer.

Conclusão

A grande questão não está nas circunstâncias externas — como cursar ou não um seminário, envolver-se ou não em estudos teológicos formais —, mas na batalha interior. O orgulho é um inimigo que pode se manifestar tanto no saber quanto na ignorância, na liderança quanto no anonimato. A luta pela humildade é espiritual, constante e só pode ser vencida com as armas certas: admiração pela graça, consciência da dependência, oração incessante, vida de serviço e vigilância contra a autoglorificação. A verdadeira humildade não é natural; é um milagre que Deus opera no coração que se submete.

Referência: DesiringGod

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