O que é uma concubina e Por que Deus permitiu concubinas na Bíblia?

Enquanto ainda vivia, ele deu presentes aos filhos de suas concubinas e os enviou para longe de seu filho Isaque, para a terra do Oriente. ~ Gênesis 25:6 (NVI)

Na Bíblia, uma concubina era uma mulher tomada como esposa secundária. Seu papel incluía gerar um herdeiro caso a esposa fosse estéril, aumentar a descendência para fortalecer a família em termos de trabalho e riqueza, além de atender às necessidades do marido. Embora possuísse alguns direitos e proteção pela lei hebraica, seu status era inferior ao de uma esposa.

Esse tipo de união era mais comum no período patriarcal, nos tempos de Abraão, Isaque e Jacó, mas ainda ocorria entre os mais ricos e, especialmente, na realeza, como no caso do rei Davi e do rei Salomão.

Embora a Lei de Moisés concedesse certos direitos e proteções às concubinas, essa prática não foi instituída ou aprovada por Deus como um modelo de casamento. O termo hebraico para concubina, Piylegesh, não tem origem hebraica, sendo um empréstimo linguístico de outra cultura, conforme explica o Baker’s Dictionary of Biblical Theology, referindo-se a um costume que não era originalmente israelita.

David L. Baker, teólogo e professor de seminário, afirmou:

“No antigo Oriente Próximo, era aceitável que um homem casado tivesse uma esposa secundária ou concubina, desde que possuísse recursos suficientes para sustentar uma grande família. Além de trabalhar no lar e oferecer companhia ao marido, uma das principais funções da concubina era gerar filhos, ampliando assim a força de trabalho da casa.

“A poligamia e a concubinato também eram permitidos no antigo Israel e parecem ter sido bastante comuns no período patriarcal (época de Abraão, Isaque e Jacó). No entanto, posteriormente, a maioria dos casamentos entre pessoas comuns passou a ser monogâmica.”

Quem eram as concubinas na Bíblia?

De acordo com o Smith’s Bible Dictionary, uma concubina geralmente se enquadrava em uma das seguintes categorias:

  1. Uma jovem hebreia vendida pelo pai (Êxodo 21:7).
  2. Uma cativa estrangeira capturada em guerra (Deuteronômio 21:10-14).
  3. Uma escrava estrangeira adquirida por compra.
  4. Uma mulher cananeia, livre ou escravizada.

Os direitos das duas primeiras categorias eram protegidos pela lei, enquanto a terceira não era reconhecida e a quarta era proibida. Mulheres hebreias livres também podiam se tornar concubinas.

Uma mulher hebreia livre que se vendeu como concubina

Em situações de extrema pobreza, as opções para uma mulher eram limitadas. Para evitar a prostituição ou a falta de moradia, algumas optavam por se tornar concubinas de um único homem.

Uma jovem hebreia vendida pelo pai

Embora fosse uma prática incomum, os pais tinham o direito legal de vender seus filhos como escravos. Segundo a lei, um escravo hebreu deveria ser libertado após seis anos de serviço, a menos que decidisse permanecer na casa do seu senhor (Deuteronômio 15:12-17).

No caso de uma jovem vendida como concubina, o homem que a comprasse deveria garantir seu sustento pelo resto da vida, transferi-la para outro homem que assumisse essa responsabilidade ou devolvê-la ao pai sem exigir reembolso (Êxodo 21:7-11).

O Ellicott’s Commentary destaca que essas regulamentações ofereciam proteção significativa à concubina escravizada, prevenindo abusos e opressão severa.

Uma mulher estrangeira capturada em guerra

A NIV Zondervan Study Bible faz a seguinte observação sobre essa situação:

“O estupro era um problema recorrente em tempos de guerra, mas era proibido em Israel. Se um soldado se sentisse atraído por uma mulher cativa, deveria se casar com ela. No entanto, esse casamento só poderia ocorrer após um período de luto e adaptação de um mês (Deuteronômio 21:12-13). Caso decidisse romper o casamento posteriormente, ele deveria conceder liberdade à mulher.

“A dignidade dessa mulher deveria ser preservada, e ela não poderia ser tratada como uma escrava. O fato de que prisioneiras de guerra podiam ser tomadas como esposas não legitimava essa prática, mas sim a regulava e transformava para mitigar um mal existente.”

Uma mulher estrangeira vendida como escrava

Essa prática não era reconhecida pela lei, pois as concubinas não deveriam ser tratadas como escravas (Deuteronômio 21:14). Além disso, a escravidão forçada e o tráfico humano eram proibidos pela lei hebraica (Êxodo 21:16).

Uma mulher cananeia

Em Deuteronômio 7:3-4, os israelitas foram advertidos a não se casarem com os cananeus, pois esses povos praticavam a idolatria, frequentemente associada a sacrifícios humanos e rituais sexuais religiosos.

Direitos das Concubinas na Bíblia

  • O status de uma concubina era superior ao de uma escrava, mas inferior ao de uma esposa.
  • Tinha direito a alimentação e vestimentas adequadas.
  • Não podia receber uma carta de divórcio, como acontecia com uma esposa.
  • Os filhos de uma concubina eram considerados legítimos, mas podiam ser vistos socialmente como inferiores aos filhos nascidos de uma esposa. Embora não tivessem direito legal à herança, podiam ser incluídos no testamento do pai (Gênesis 25:6).

De acordo com o Pulpit Commentary, essas regulamentações não eliminavam todas as dificuldades enfrentadas por esse grupo social, que era vulnerável e, muitas vezes, sujeito à opressão. No entanto, representavam avanços importantes para mitigar práticas existentes e garantir alguma proteção à concubina escravizada.

Nomes e histórias de concubinas na Bíblia

Embora as leis visassem proteger as concubinas da opressão, a Bíblia registra relatos que mostram a realidade enfrentada por elas e pelas esposas.

  1. Hagar – Era serva de Sara e sua história é narrada em Gênesis 16:1-16 e Gênesis 21:9-21. Por não confiar no tempo de Deus para conceder um filho, Sara entregou Hagar a Abraão para gerar um herdeiro. A decisão trouxe sofrimento tanto para Hagar quanto para Sara.
  2. Quetura – Tornou-se esposa de Abraão após a morte de Sara. Em Gênesis 25:1, ela é chamada de esposa, mas em 1 Crônicas 1:32 é mencionada como concubina. Gênesis 25:6 sugere que Quetura foi considerada concubina de Abraão.
  3. A Concubina de Gibeá – Sua história trágica está registrada em Juízes 19-21. Após se reconciliar com o marido, partiu da casa de seu pai para viajar com ele. Durante a jornada, passaram a noite em Gibeá, onde um grupo de homens cercou a casa e exigiu que o estrangeiro fosse entregue a eles (Juízes 19:22). Diante da recusa, o marido entregou a concubina, que foi violentada durante toda a noite e deixada à porta da casa ao amanhecer, onde morreu (Juízes 19:25).
  4. Rizpa – Concubina do rei Saul, mencionada em 2 Samuel 3:7-11. Abner, um rival ao trono de Saul, tomou Rizpa como sua mulher, um ato com forte implicação política. O Ellicott’s Commentary explica que, no contexto do Oriente Médio antigo, o harém de um monarca era considerado propriedade de seu sucessor, e reivindicá-lo simbolizava uma pretensão ao trono.
  5. As 10 concubinas do rei Davi – Essas mulheres são mencionadas em 2 Samuel 15:16, 2 Samuel 16:22 e 2 Samuel 20:3. Elas foram vítimas de abuso por parte de Absalão, que usou esse ato como estratégia política para demonstrar domínio sobre o trono de Davi.
  6. As 300 concubinas do rei Salomão – Relatadas em 1 Reis 11:1-8, essas mulheres fazem parte do extenso harém do rei, que também incluía 700 esposas. Pouco se sabe sobre suas histórias individuais, mas a realidade de dividir um marido com tantas outras mulheres certamente trouxe dificuldades emocionais e relacionais. Esse modelo matrimonial se distancia do ideal estabelecido por Deus no Éden.

Outras concubinas são mencionadas no Antigo Testamento, incluindo as passagens de 1 Crônicas 1:32, 1 Crônicas 2:46, 1 Crônicas 2:48, 1 Crônicas 7:14 e 2 Crônicas 11:21.

Por que Deus permitiu que homens tomassem mulheres como concubinas? Aspectos a considerar

Por que Deus não interveio para proibir essa prática entre o seu povo? A Bíblia não oferece uma explicação direta sobre o motivo pelo qual Deus permitiu que sistemas sociais e práticas pecaminosas, como o concubinato, continuassem existindo.

Desde o início, o plano divino para a humanidade incluía família, trabalho e relacionamento com Ele, como visto no Jardim do Éden. No entanto, ao escolher o pecado em vez do caminho perfeito estabelecido por Deus, a humanidade passou a adotar práticas que corromperam os ideais originalmente planejados.

A pobreza, por exemplo, não fazia parte do propósito de Deus. No entanto, sabendo que o pecado resultaria em desigualdade, Ele estabeleceu leis (Deuteronômio 15:1-18) para proteger os mais necessitados e minimizar a opressão (Deuteronômio 15:11; João 12:8).

Da mesma forma, o concubinato não era parte do plano divino. No entanto, diante de um mundo marcado pelo pecado, Deus permitiu leis que oferecessem certa proteção às mulheres vulneráveis, reconhecendo que as relações humanas se tornariam imperfeitas e muitas vezes injustas.

Dois pontos essenciais sobre essa questão

  1. Deus não aprovava o casamento envolvendo concubinas

O fato de existirem regulamentações para o concubinato na lei mosaica não significa que Deus tenha aprovado esse modelo de casamento.

  • Em Gênesis 2:22-24, o casamento foi claramente instituído como a união entre um homem e uma mulher.
  • Em Deuteronômio 24:5, Deus instruiu os maridos a priorizarem a felicidade de suas esposas.
  • Em Malaquias 2:13-16, Deus expressou descontentamento com a infidelidade dos maridos.

Outros versículos do Antigo Testamento que refletem a visão divina sobre o casamento monogâmico incluem Salmo 128, Provérbios 5:15-19; 18:22 e Eclesiastes 9:9.

  1. A lei servia para expor o pecado humano e apontar para a necessidade de Cristo

Os relatos históricos do Antigo Testamento devem ser interpretados de forma diferente das cartas apostólicas do Novo Testamento. Um dos principais propósitos da Lei de Moisés era revelar a profundidade do pecado e demonstrar que nenhum ser humano poderia cumpri-la perfeitamente (Gálatas 3:19; Hebreus 10:1-10).

O Comentário de Matthew Henry explica esse princípio da seguinte forma:

“A lei não foi dada para revelar um meio de justificação diferente daquele prometido por Deus, mas para levar os homens a reconhecerem sua necessidade da promessa, mostrando-lhes a pecaminosidade do pecado e apontando para Cristo, o único que poderia conceder perdão e justificação.”

Portanto, ao ler histórias sobre concubinas ou outros relatos difíceis do Antigo Testamento, é importante lembrar que esses registros não servem para validar tais práticas, mas para revelar a profundidade do pecado e a necessidade de redenção em Cristo.

Muitos eventos narrados no Antigo Testamento são moralmente perturbadores e nem sempre possuem um desfecho positivo ou uma lição explícita, além do alerta de que tais atos não devem ser seguidos. O Espírito de Deus não inspirou esses relatos para demonstrar que Ele aprovava essas ações, mas para expor a depravação humana e reforçar a necessidade de Jesus Cristo.

As histórias mencionadas podem ser difíceis de ler e compreender, mas também foram dolorosas para Deus. Ele ama homens e mulheres e sempre desejou um caminho de pureza e prosperidade para eles. Mesmo diante da contínua rejeição de seus princípios e da persistência do pecado, Deus demonstrou paciência, amor e provisão, culminando no sacrifício de Cristo para a redenção da humanidade, oferecendo a oportunidade de vida eterna ao lado d’Ele.

Referência: Christianity

Deixe um comentário